03/03/2015 - Valor Econômico
A francesa Alstom vai enfrentar o desafio de manter sua nova fábrica de veículos leves sobre trilho (VLT) operando após a entrega das primeiras encomendas para o Rio de Janeiro. A modalidade de transporte não é uma das mais utilizadas no país e poucos projetos realmente saíram do papel. A fábrica, que será oficialmente inaugurada hoje, foi construída em Taubaté (SP) e recebeu investimentos de R$ 50 milhões.
Confiante na demanda brasileira pelos VLTs no longo prazo, Henri Poupart-Lafarge, presidente da Alstom Transport, admite o desafio de manter um fluxo de demanda contínuo no curto prazo, em um momento de desaceleração econômica e de redução do ritmo de investimentos em infraestrutura no país, situação que é agravada pela operação Lava-Jato e também citação do nome da multinacional em investigações de corrupção.
As primeiras unidades produzidas na fábrica de Taubaté serão direcionadas para o projeto Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. A encomenda para o município é de 32 trens, o que manterá o movimento da fábrica nos primeiros meses. A unidade possui cerca de 16 mil m2 e tem capacidade para produzir de sete a oito trens por mês. Mas o presidente da empresa diz que a capacidade pode ser expandida a depender da demanda.
No momento, a empresa está em negociações para fornecer 60 trens para a cidade de Goiânia, afirma Poupart-Lafarge, que seriam todos fornecidos pela fábrica de Taubaté. Ele diz que falta apenas a confirmação de operações de financiamento para o projeto.
Poupart-Lafarge cita Campinas (SP), Manaus (AM) e Recife (PE) entre possibilidades de cidades onde a Alstom Transport pode conseguir novos contratos. Questionado sobre a possibilidade de uso dos VLTs também na região metropolitana de São Paulo, o executivo afirmou que seria uma opção para conectar áreas mais periféricas, como já acontece outras metrópoles do mundo.
Poupart-Lafarge é presidente da Alstom Transport desde 2011 e diz que o Brasil, por ter várias cidades grandes e necessidade de investimentos em mobilidade urbana, é um importante mercado para a companhia, embora no curto prazo veja alguns riscos que podem impedir o crescimento rápido das operações. Ele coloca entre esses riscos a desaceleração econômica. Questionado sobre os envolvimentos da Alstom em escândalos no país, ele afirma que a companhia está colaborando com todos os tipos de negociações e que está comprometida com o país. "Não sou ingênuo e sei que as investigações podem gerar discussões no curto prazo. Mas estamos extremamente dedicados a colaborar."
A Alstom é acusada de formação de cartel para se beneficiar em licitações para obras e serviços de manutenção do Metrô de São Paulo e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). No início de fevereiro, teve seus bens bloqueados pela Justiça de São Paulo. No exterior, a companhia também é acusada de pagar suborno para ganhar contratos de energia, resultado de seis anos de investigação nos EUA, Suíça e Indonésia.
O mercado latino-americano é responsável hoje por 15% da carteira de pedidos da Alstom Transport, com cerca de € 1 bilhão, de um total de € 6,4 bilhões. O Brasil corresponde por algo em torno de 50% a 60% das receitas da operação da região, diz Michel Boccaccio, vice-presidente da Transport para a America Latina.
Como parte de um plano da multinacional de focar na área de transportes, a Alstom está perto de finalizar a venda da unidade de energia para a GE. A negociação conta com a aquisição da área de sinalização da fabricante americana por parte da francesa e aguarda aprovação de órgãos regulatórios europeus.
A Alstom espera que o negócio de US$ 17 bilhões seja aprovado pelos órgãos antitruste por volta do meio deste ano, disse Poupart-Lafarge. A proposta foi aprovada pelo conselho de administração da Alstom e pela assembleia dos acionistas. Na semana passada, no entanto, a União Europeia disse que pretende investigar detalhadamente o negócio, para ver se ele poderia levar a um aumento nos preços de grandes turbinas a gás.
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