27/01/2013 - O Globo, Fábio Vasconcellos e Selma Schmidt
Prefeitura pretende fechar ao tráfego trecho da avenida entre a Nilo Peçanha e a Santa Luzia
Em 2016, completam-se 111 anos da inauguração da Avenida Central (atual Rio Branco), marco da administração do prefeito Pereira Passos. Construído nos moldes parisienses, o boulevard era surpreendentemente largo para os padrões da época. Mas, se o projeto do passado permitiu ampliar a circulação viária, em 2016 será a vez de a prefeitura acabar com o tráfego de veículos em pelo menos parte da via, com a criação do chamado Boulevard Rio Branco, entre a Avenida Nilo Peçanha e a Rua Santa Luzia.
Essa é apenas uma das inúmeras intervenções previstas no Centro e na Zona Portuária para os próximos três anos, que incluem fechamento de trechos de mais vias, inversão de tráfego, seis VLTs (os chamados bondes modernos) e uma rua exclusiva para o BRT Transbrasil, que terá um mergulhão sob as pistas do Aterro até a futura estação, vizinha ao Aeroporto Santos Dumont. Quem frequenta a já congestionada região vai precisar de muito mais paciência. O aviso é do próprio prefeito, Eduardo Paes:
- Viveremos um período de muito tumulto, a partir do próximo semestre. Vamos buscar gerenciar a execução dessas obras da melhor maneira possível, para que causem o menor transtorno ao tráfego, mas elas são muito complexas. O que se pede é a compreensão da população nesse período de mudanças. Podem xingar, mas com suavidade. Estamos criando condições para implantar um transporte público de altíssima qualidade. Essa é a única maneira de podermos pedir às pessoas para deixarem de usar o carro.
O Boulevard Rio Branco, que antes chegou a ser anunciado para toda a avenida, ganhou uma versão reduzida. No trecho entre a Nilo Peçanha e Santa Luzia, há uma espécie de corredor cultural da cidade. É lá que ficam os teatros Municipal e Glauce Rocha, o Museu de Belas Artes, a Biblioteca Nacional, e restaurantes e livrarias que são referência no Rio. Os comerciantes acham a nova versão do boulevard mais interessante.
- Pode deixar a avenida mais bonita, incentivando as pessoas a usarem mais o transporte público - diz João Alberto Lima da Costa, sócio, com José Augusto, da Leiteria Mineira, um dos tradicionais restaurantes do Centro, e que está localizado no trecho que será fechado.
Já Milena Dochiade, gerente da Livraria Leonardo da Vinci, no Edifício Marquês do Herval, tem uma preocupação:
- Gosto da criação do boulevard. Mas é preciso pensar como os idosos, por exemplo, poderão chegar de táxi até os prédios.
O arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e professor da UFRJ, ressalta que a medida precisa ser bem discutida. Na avaliação dele, a importância da Rio Branco é nacional, porque a sua criação teve um impacto muito maior do que permitir uma melhor circulação no Centro:
- Não sou contra intervenções. As cidades são dinâmicas. Mas qualquer intervenção numa via, como a Rio Branco, precisa ser muito discutida com a sociedade. Não pode ser uma decisão autocrática. Essa avenida tem uma importância simbólica para o Rio e para o Brasil.
Pelo projeto, pedestres dividirão o boulevard com uma das linhas de VLT que será criada. O piso do calçadão será de granito, nas cores cinza (claro e escuro) e vermelho. Paes decidiu que o espaço não terá cadeiras e bancos. Mas poderá ter esculturas. O prefeito quer montar uma comissão para escolher peças a serem feitas por artistas brasileiros. Trechos da Rua Evaristo da Veiga (até a Rua Senador Dantas) e da Avenida Nilo Peçanha (até o Largo da Carioca) não terão tráfego e serão incorporados ao boulevard. O grande calçadão só será cortado pela avenida Almirante Barroso.
Boulevard terá via de serviço
Mas o subsecretário executivo de Transportes, Alexandre Sansão, informa que, no trecho do boulevard, será criada uma via de serviço, para permitir acesso a garagens e operações de carga e descarga.
-Ninguém ficará impedido de entrar em sua garagem nem de receber mercadorias - garante Sansão.
O projeto para a Rio Branco prevê ainda que o trecho entre a Rua Visconde de Inhaúma e a Avenida Nilo Peçanha terá mão dupla (hoje o sentido é único). Nas laterais, passará o VLT e, no centro, circularão os demais veículos. O fechamento de um trecho da Rio Branco provocará mudança de tráfego em vias paralelas. A Avenida Graça Aranha e a Rua México mudarão de mão. E a Nilo Peçanha terá mão dupla entre a México e a Rio Branco.
A chegada do BRT ao Centro também será recheada de mudanças viárias. Mais que isso: Sansão estima que 70% dos ônibus atuais deixarão de circular na região. Hoje, pelo local, passam 462 linhas, sendo 290 municipais. Isso porque os que trafegam pela Avenida Brasil virarão veículos articulados de alta capacidade, e os intermunicipais vão parar num terminal fora do Centro.
Em mão dupla, o BRT Transbrasil passará pelas avenidas Francisco Bicalho e Presidente Vargas. Para que os ônibus articulados possam seguir o seu caminho, a prefeitura decidiu transformar a Rua Primeiro de Março em corredor exclusivo de BRT. Ao chegar à Avenida Presidente Antônio Carlos, uma das pistas será reservada aos articulados. As outras ficarão para os demais veículos.
- Ainda estamos estudando, mas provavelmente o BRT passará pela pista ao lado do Tribunal de Justiça - explica Sansão.
Segundo o secretário de Obras, Alexandre Pinto, para que o BRT possa cruzar o Aterro, a solução será construir um mergulhão de 400 metros de extensão. Como o Parque do Flamengo é tombado, semana passada Paes começou a se reunir com o Iphan para tratar do projeto.
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