05/02/2012 - Band
Apesar do descontentamento dos moradores com o novo projeto, administradora alega que transporte será mais seguro
Pouco mais de seis meses após a desativação dos centenários bondes, o governo divulgou o projeto de como será o novo sistema de transporte sobre trilhos de Santa Teresa. Semana passada, o Estado lançou o edital de licitação para a construção de 14 novos bondes. A concorrência está marcada para o próximo dia 28, mas os moradores do bairro querem impedir que o projeto prossiga.
O motivo do impasse é simples. Justamente porque o projeto é de um novo bonde e não a restauração do sistema antigo. “Inventaram um bonde novo, não é o original, o tradicional. Eles vão descaracterizar o bonde, que é tombado, e estão descumprindo uma sentença judicial”, justificou Elzbieta Mitkiewicz, presidente da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast).
Representantes da Amast vão se reunir, na quarta-feira, com o promotor Marcos Leal, do Ministério Público Estadual, para que o órgão tome providências.
“A sentença judicial, de 2009, exigia que o governo restaurasse 14 bondes, além do sistema como um todo. Ao invés de cumpri-la, o Estado ficou recorrendo. Se tivesse cumprido, o acidente não teria nem acontecido”, reclamou Elzbieta, referindo-se ao dia 27 de agosto de 2011, quando um dos bondes perdeu o freio e bateu, matando seis pessoas.
De volta só em 2014
O governo anunciou que, no primeiro trimestre de 2014, o novo sistema de transporte entrará em operação. Os 14 novos bondes terão 24 assentos, capacidade menor que os antigos. Alguns tinham 32 lugares, outros, 36, além de transportar pessoas penduradas nas laterais, que se seguravam pelos estribos.
Segundo a Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (Central), que administra o transporte e que desenvolveu o projeto - com consultoria da empresa Carris Transportes Públicos Lisboa - os novos carros serão mais seguros e confortáveis, até porque todo o sistema será modernizado.
“Seguimos uma determinação do governador (Sérgio Cabral) para fazer uma intervenção em todo o sistema, tanto no carro, como nos trilhos, na via aérea, garagem, subestações e na estação da Carioca. Não adianta ficar remendando. Havia necessidade de mudança total”, disse o presidente da Central, Eduardo Macedo.
Segundo ele, antes do acidente, apenas quatro bondes circulavam pelo bairro e, pelos últimos levantamentos, eles transportavam, com precariedade, cerca de 5 mil pessoas por mês.
“Dependendo da demanda que existir, poderemos comprar mais bondes depois, mas acredito que atenderemos pelo menos 10 mil passageiros ao mês. Sobre os novos trilhos bilabiados (próprios para bondes) a performance e eficiência do sistema vai melhorar”, defendeu Macedo.
Pelo projeto, o transporte ganhará 3,3 km a mais, passando a ter 10,5 km. Isso porque o traçado original será recuperado, com a reativação de dois trechos. Um deles é o ramal Silvestre, que vai possibilitar integração do bonde com o trenzinho do Corcovado.
Capacidade reduzida
A Amast acusa o governo de priorizar o turismo, em prejuízo aos moradores. Segundo a associação, a redução dos assentos, aliada à extensão da linha até o Silvestre, reduzirá em mais de 30% a quantidade de passageiros atendidos.
“Já chegamos a ter 19 bondes. Os quatro que circulavam antes do acidente não satisfaziam à necessidade do bairro. Estávamos com poucos por absoluta falta de manutenção do transporte”, reclamou a presidente da Amast.
Elzbieta explicou que o Programa Estadual de Transportes (PET), que o governo se comprometeu a cumprir desde 2003, previa um total de 14 bondes tradicionais como número ideal para atender à demanda dos ramais Paula Mattos e Dois Irmãos.
“Ampliando a extensão das linhas até o Corcovado, a procura dos bondes por turistas vai aumentar de forma considerável, tornando a situação ainda mais insustentável”, explicou ela.
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