31/10/2011 - Veja
Empresa que levou 9 milhões para modernizar sete carros usou truques inadequados para bondes, que trazem desconforto e risco de descarrilamento
Por João Marcello Erthal
A garagem dos bondes de Santa Teresa guarda uma bomba cujo custo para ser desarmada ainda não se conhece. A certeza, por enquanto, é de que não sai barato. No meio do caminho dos estudos para escolher entre a recuperação dos bondes ou a compra de novas unidades, técnicos contratados pela Central descobriram que os sete bondes reformados pela empresa T’Trans foram equipados com truques de trem, inadequados para bondes. Os truques são a suspensão do bonde, que liga os carros propriamente ditos às rodas. “Os engenheiros portugueses da Carris, que opera um sistema muito parecido em Lisboa, bateram o olho nos nossos bondes e disseram na hora: esses truques são para trens, não servem para bonde”, explica o presidente da Central, Eduardo Macedo.
Trem e trem. Bonde é bonde. Mas para resumir a questão, a principal basicamente está na rigidez dos truques. O truque para trem é mais rígido, menos flexível e inadequado para o trajeto irregular e sinuoso de Santa Teresa. “Os moradores do bairro reclamavam do barulho dos bondes reformados. Estavam certos. Eles são mais rígidos, vinham provocando uma vibração em todas as ruas, nos prédios”, conta Macedo.
A T’Trans venceu uma licitação para reformar os 14 bondes de Santa Teresa. Entregou sete reformados, e recebeu 9 milhões, dos 14 milhões previstos. O contrato está suspenso, segundo Macedo, por falta de planilhas apresentando o detalhamento dos gastos e dos serviços. Mas pode ser reabilitado a qualquer momento. “Se o contrato for reconsiderado, teremos que decidir o que fazer. Como estão, os bondes reformados não podem rodar, não é seguro, não podemos ser irresponsáveis”, adverte.
Irresponsabilidade foi o problema para a situação dos bondes chegar à penúria de agora – e para a tragédia. “Para uma instituição com orçamento de 800 milhões, o sistema de bondes, que tem 17 quilômetros e transportava 40 mil pessoas por mês, é muito pouco. Muito pequeno para dar o problema que deu”, avalia Macedo, criticando a negligência que levou o sistema a ser canibalizado para manter os bondes circulando, à custa de empenho de funcionários que chegavam a comprar ferramentas com dinheiro do próprio bolso. “Uma gente aguerrida, mas que precisa ser reciclada, retreinada”, afirma.
Sem estribos – Trazer os bondes de Santa Teresa para padrões atuais de segurança vai implicar em mudanças de comportamento para os usuários. Ainda não está decidido, mas é provável que as viagens no estribo, e até o tráfego de passageiros em pé, sejam proibidas. “Sabemos que 30% dos acidentes ocorrem com gente que viaja nos estribos. Por mim, pessoalmente, os bondes têm que ter as laterais fechadas. Mas isso só saberemos depois de mais estudo”, explica Macedo.
Fonte: Revista Veja
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