quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Ingresso do trenzinho do Corcovado sobe de R$ 50 para R$ 62 na alta temporada

Reajuste, de 24%, reacende polêmica: quem fica com o que é arrecadado com a cobrança dos ingressos?

POR FERNANDA DA ESCÓSSIA

27/11/2014 - O Globo


Filas para embarcar rumo ao Corcovado - Custodio Coimbra/22-7-2010

RIO - Com a chegada da alta temporada de turismo no Rio, o ingresso para o trenzinho do Corcovado subiu de R$ 50 para R$ 62 (um reajuste de 24%) e abriu uma polêmica que envolve o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM-Bio), a Secretaria estadual de Turismo, agências de viagens e a concessionária Trem do Corcovado. Nessa discussão, quem sai perdendo mesmo é aquele que quer visitar o monumento, seja turista ou morador do Rio. Junto com o novo preço, vem à tona ainda uma velha questão: quem fica com o que é arrecadado com a cobrança dos ingressos?

O novo preço começou a ser cobrado no sábado (há descontos para idosos e menores de 12 anos). O valor foi estabelecido no contrato da nova licitação, que entrou em vigor este mês e foi assinado entre o ICM-Bio, que administra o Parque Nacional da Tijuca, e a Trem do Corcovado. Antes, quando o ingresso custava R$ 50, agentes de viagem que compravam em quantidade conseguiam o preço especial de R$ 46. A alta temporada inclui as férias de fim de ano, até depois do carnaval, e as do meio do ano, além de todos os fins de semana e feriados. Na baixa temporada, o bilhete sairá por R$ 51.

Num movimento que tenta manter o privilégio do preço mais baixo para compras de grandes grupos, os agentes de viagens fizeram uma reunião nesta quarta-feira na Secretaria estadual de Turismo. Os operadores de turismo insistem, pelo menos nesta temporada, em pagar, senão os R$ 46 de antes, o preço de baixa temporada (R$ 51). Alegam que já têm contratos firmados e que não podem subir o valor agora. Dizem que viagens internacionais são acertadas com antecedência, e os preços, idem.

— Quando chega um navio aqui com três mil pessoas, pelo menos um terço delas vai visitar o Corcovado usando o trenzinho. E já está tudo acertado, contratado. Na hora de pagar, teremos de comprar o ingresso pelo preço novo? Como vai ser isso? Teremos uma perda muito alta — reclama George Irmes, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens, seção Rio de Janeiro.

Segundo ele, a Abav-RJ ainda está calculando o prejuízo que os operadores terão com a mudança no preço do ingresso.

Na reunião, ficou acertado o envio de uma carta aos ministérios do Meio Ambiente e do Turismo explicando o problema e pedindo uma atitude junto ao ICM-Bio. O secretário estadual de Turismo, Cláudio Magnavita, disse que a reclamação dos agentes de viagem faz sentido, porque eles já tinham contratos acertados por um preço e não podem de uma hora para outra pedir outro.

— E o Rio não vê um centavo do dinheiro que entra com esses ingressos. Tudo vai para o próprio ICM-Bio ou para a concessionária — queixa-se Magnavita.

O secretário disse que o aumento não foi negociado e que já levou o caso ao ministro do Turismo, Vinicius Lages. Segundo ele, um aumento de R$ 50 para R$ 62 ajuda a fortalecer a imagem de que o Rio é um destino turístico caro. A subida ao topo da Torre Eiffel, por exemplo, custará, a partir de janeiro, 15,50 euros (cerca de R$ 49). Pelos dados da secretaria, o Estado do Rio recebe anualmente cerca de cinco milhões de visitantes, sendo 2,5 milhões turistas internacionais.

ADVERTISEMENT

Outra proposta defendida por Magnavita é que moradores do Rio paguem um ingresso mais barato.

O presidente da concessionária Trem do Corcovado, Sávio Neves, disse que quem define o preço é o ICM-Bio. E que está solidário com os agentes de viagem, mas que não pode cobrar os velhos R$ 46 se o preço novo é outro. Aceitaria os R$ 51, mas também depende de autorização do órgão federal para isso.


Marcas de tiros numa das placas da região - Marcos Tristão

Segundo ele, o trenzinho recebe anualmente cerca de 850 mil passageiros, o que lhe garante um faturamento bruto anual de aproximadamente R$ 30 milhões (R$ 2,5 milhões mensais). A forma de divisão do bolo também foi alterada. No contrato antigo, segundo Neves, o ICM-Bio recebia uma cota fixa de R$ 1,6 milhão por mês, independentemente da quantidade de visitantes. O restante ficava com a concessionária.

No novo contrato, o ICM-Bio recebe um fixo anual de R$ 3,8 milhões (cerca de R$ 316 mil mensais), mais um valor sobre cada ingresso (R$ 26 de cada bilhete de R$ 62), para aplicar na manutenção do Parque Nacional da Tijuca.

Segundo Neves, só 20% dos visitantes anuais do trem do Corcovado chegam por intermédio dos operadores de turismo. A rebelião dos agentes de viagem deixa descobertos, portanto, os 80% de turistas restantes, que compram ingresso por sua própria conta e terão de pagar os R$ 62, sem alternativa. Também é possível ir ao Cristo de van ou a pé. Mais informações podem ser obtidas no site do parque: http://www.parquedatijuca.com.br/.

Subir ao Corcovado de trenzinho está longe de ser um programa acessível. Uma família que more no Rio, por exemplo, e queira levar dois filhos — um adolescente e um menor de 12 anos (que paga R$ 40) —, além de dois parentes de fora da cidade, para conhecer a atração terá que desembolsar R$ 350, ou quase meio salário mínimo. Sem comprar nem água. Melhor ir à praia.

Uma equipe do GLOBO encontrou, em acessos ao Parque Nacional da Tijuca, banheiros fechados com cadeados e muitas placas com marcas de balas ou riscadas.

Procurado, o Parque Nacional da Tijuca informou, por intermédio de sua assessoria, que não houve aumento de preços. Segundo a assessoria, o que houve foi a inclusão, no novo valor do ingresso, da tarifa para visitar o parque.

Com isso, o passeio de trenzinho tem preço fixo de R$ 40, e os demais R$ 22 são pela entrada no parque. Na baixa temporada, são R$ 40 pelo trem e R$ 11 pela entrada. Não é possível, de acordo com a assessoria, cobrar só pelo trenzinho, já que o visitante obrigatoriamente percorre o parque.

Para os moradores do Rio de Janeiro, não há previsão de cobrança de um ingresso mais barato.

QUANTO CUSTA VISITAR:

Torre Eiffel. A mais famosa atração de Paris pode ser visitada por quem estiver disposto a desembolsar 15 euros (cerca de R$ 48).

Estátua da Liberdade. O ferry que liga Manhattan à ilha onde fica o monumento, em Nova York, custa US$ 18 (adultos) ou cerca de R$ 45.

Coliseu de Roma: Visitado por dez entre cada dez turistas que chegam à cidade, o monumento oferece um tíquete combinado, de 12 euros (o equivalente a R$ 38), com outra atração: o Fórum Romano.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/ingresso-do-trenzinho-do-corcovado-sobe-de-50-para-62-na-alta-temporada-14672363#ixzz3KGjzYWVA 
© 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário