13/12/2012 - O Globo
Transporte, que chegou ao bairro em 1914, contribuiu para o crescimento da região Morador se emociona com descoberta
De volta ao passado. Trilhos no canteiro de obras da Linha 4 do metrô (Barra da Tijuca-Zona Sul), na Praça Antero de Quental, no Leblon Marcelo Piu / O Globo
RIO As obras da Linha 4 do metrô no Leblon trouxeram à tona um pedaço da história do bairro. Esta semana, operários que trabalham no canteiro de obras da Avenida Ataulfo de Paiva encontram, próximo à Praça Antero de Quental, restos dos trilhos que compunham o antigo itinerário dos ferrocarris (bondes) que circularam por ali no início do século XX. Inaugurado em 1914, o meio de transporte chegou ao bairro já movido a eletricidade (os primeiros, que começaram a circular na cidade em 1868, usavam tração animal). Ele fazia a ligação do Leblon com o Centro.
Assim como ocorrera com Copacabana, em 1892, a chegada do bonde trouxe progresso e crescimento à região. O pesquisador Rogério Suarez Barbosa Lima, autor de livros sobre o bairro e do site O Antigo Leblon (www.antigoleblon.com.br), recorda que o surgimento dos bondes foi fundamental para o crescimentos de áreas da Zona Sul.
Havia de um lado linhas que circulavam por Botafogo, Flamengo, Copacabana e Ipanema e, de outro, as que faziam Jardim Botânico, Gávea e Leblon. Elas se encontravam no Canal do Jardim de Alah recorda-se Rogério Suarez.
Com a chegada do bonde, em 1914, os moradores ganharam mais mobilidade e passaram a ter uma conexão bem maior com toda a cidade. Saindo do Tabuleiro da Baiana, no Largo da Carioca, passando pela Glória, Flamengo, Botafogo e Gávea, os bondes circulavam por vias importantes, como Bartolomeu Mitre, Dias Ferreira e Ataulfo de Paiva, indo até a Visconde de Pirajá, esquina de Henrique Dumont, já em Ipanema.
Até a década de 10, o bonde que saía do Centro só chegava até a Gávea, na Marquês de São Vicente. A partir dali, os moradores do Leblon tinham que seguir a pé ou, quem tinha dinheiro, pegava uma charrete. Era um bairro de chácaras e, quando surgiram os primeiros loteamentos, começaram a circular as primeiras linhas explica o historiador Nireu Cavalcanti.
Morador se emociona com descoberta
Nas linhas que circulavam pelo Leblon, os passageiros embarcavam em veículos grandes, de teto arredondado, largos, e considerados ligeiríssimos para a época. O militar aposentado Sebastião Grossi, de 75 anos, ainda se lembra dos passeios pela cidade. Ele ficou emocionado com a descoberta dos trilhos na Avenida Ataulfo de Paiva pelos operários das obras do metrô.
Moro num prédio em frente à obra, e minha mulher me chamou para ver. Então eu desci e fui conferir pessoalmente. Fiquei muito emocionado, porque me recordei de um tempo bom que não volta mais. Eu, quando jovem, usei muito o bonde para andar pela cidade toda, para trabalhar, ir à praia disse. Ainda me lembro dos carnavais, que muitas vezes eram comemorados dentro do bondes.
A Linha 4 do metrô ligará o Jardim Oceânico, na Barra, a Ipanema.
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